Soneto do Efêmero
Sangaram os mulungos no ermo encantado
frágeis flores de brasa. O canto insone
— pobre pássaro rouco no ar crispado —
voa da concha azul do grafafone.
Sobre a face das almas desce o cone
de sombras, antes que, no ilimitado
reino interdito, a vida se abandone
à lógica do tempo. E ladao a lado
o homem e as coisas: a arca subjetiva
— onde se funde o dúplice lamento,
— onde tudo ao mudável se reduz
e os ontens e amanhãs, matéria viva
dos seres, desintegram-s no vento
como as almas, o canto, os mulungos.
Waldemar Lopes
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