Patativa do Assaré - A muié que mais amei

A muié que mais amei
Era um modelo prefeito
A muié que eu mais amei,
Linda e simpáte de um jeito
Que eu mermo dizê não sei.
Era bela, munto bela;
Mode comparar com ela,
Outra coisa eu não arranjo
E por isso eu tenho dito
Que se anjo é mesmo bonito,
Era o retrato dum anjo.

Sei que alguém não me acredita,
Mas eu digo com razão,
Foi a muié mais bonita
De riba do nosso chão;
Era mesmo de encomenda
E do amô daquela prenda
Eu fui o merecedô
Erai eu mesmo sozinho
Dono daquele carinho
Daquele anjo encantadô.

Era linda esta donzela,
Só neu vivia pensando.
Quando eu oiava pra ela,
Ela já tava me oiando.
Mode nós dois conversar
E o amô continuar
Quando eu não ia, ela vinha,
Sempre um do outro bem perto
Nosso amô dava tão certo
Quem nem faca na bainha.

E por sorte e por capricho,
Eu tinha prata, ouro e cobre.
Dinheiro em mim era lixo
Em casa de gente pobre.
Nós nunca perdia os ato
De cinema e de treato
De drama e ôta diversão,
Não fartava coisa arguma,
As notas eu tinha de ruma
Para nós andar de avião.

Quando nós dois se arrumava
E saía a passear
O povo todo arredava
Mode ver nós dois passar
Cada qual mais prazentêro
Deste nosso mundo intêro
Nós dois éra o mais feliz
Vivía nas artas roda
E só trajava na moda
Dos modelo de Paris.
Meu grande contentamento,
Não podia haver maió
Os nossos dois pensamento
Pensava uma coisa só.
Mode gozar minha vida
Perto daquela querida
Eu não poupava dinhêro.
Tanta sorte nós tivemo
Que muntas viagens demo
Nas terras dos estrangêro.

E assim o tempo corria
E o amô continuava
Aonde um fosse ôto ia
Onde um tivesse o ôto tava;
Nas festa de posição
Das mais arta ingorfação
Nunca faltava convite
Mode dizê a verdade
A nossa felicidade
Já passava do limite

Era boa a nossa sorte
E não mudava um segundo
Ninguém pensava na morte
E o céu era aqui no mundo.
Na refeição nós comia
Das mais mió iguaria
Sem falar de carne e arroz
E por isso munta gente
Vivia ringindo os dente
Com ciúme de nós dois.

Foi uma vida badeja
A vida que eu desfrutei,
Mas pra quem tiver inveja
Da muié que eu mais amei
Com tanta felicidade,
Eu vou dizê a verdade,
Pois não engano a ninguém.
Aquele anjinho risonho
Eu vi foi durante um sonho;
Muié nunca me quis bem!

A história não é verdade,
Todo sonho é mentiroso
Aquela felicidade
Tanto luxo e tanto gozo
Sem o menor sacrifíço
Foi negócio fictíço
Não foi coisa verdadeira.
Eu fiquei dando o cavaco:
Estes alimento fraco
Só dá pra sonhar besteira.

De noite eu tinha jantado
Um mucunzá sem tempêro
E acordei arvoroçado
Sem muié e sem dinhêro;
Ainda reparei bem
Mode vê se eu via arguém
Por perto de minha rede
Mas, em vez de tudo aquilo
Só ouvi cantando o grilo
Nos buracos da parede.

Quando acordei estava só
Sem ter ninguém do meu lado,
Era munto mais mió
Que eu não tivesse sonhado.
Quem já vai no fim da estrada
com esta perna quebrada
Um sacrifiço sem fim,
sem cobre doente e fraco
Vem um sonho enchendo o saco
Piorar quem já tá ruim.

Patativa do Assaré

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Poxa, deveriam ter deixado na escrita original, desta forma acabaram com o poema.

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Poema ao acaso