O velho Tamboril - Maria José Virgínio

O velho Tamboril
Na calma das tuas águas serenas,
Meus sonhos passeiam entre recordações e lembranças ternas.
E a tarde estende o manto da saudade e da melancolia.
Como éramos felizes à sombra daqueles dias.

Lembro o horizonte que se formava num encontro majestoso
De tuas águas salgadas a batizar o céu tão formoso!
A brisa leve e macia qual carícia suave em meu rosto
Era a mão que afagava os doces sonhos meus.

Aqui, acolá um pescador lançava sua rede
Num ritual harmonioso em sincronia com o vento.
E naquela dança leve, pescava seu alimento
E minha vista capturava aquele ritual, da sua imponente parede.

Recorda-me a lenda da Mãe-d’àgua , para nós uma verdade
Que chorava a saudade da vida
Do fundo lodoso do teu porão
E chegando a tardinha, o medo do seu choro acelerava o coração.

Agora o vento açoitava fortemente
Assanhando os cabelos sem tranças e,
Escondia entre as folhas dos umbuzeiros
Seus frutos azedos que colhíamos lentamente.

Relembro sua paisagem bucólica daqueles idos dias
De uma infância vadia,
Onde a vida era outra, onde a vida era minha
Curtia a vida sob a vigilância das irmãs Lenira e Carminha,
E desfrutava tudo ao lado de Lourdinha.

Pelos campos lentamente,
Cai a noitinha, calmamente
Hora do “Angelus’’! Hora da ‘’Ave Maria’’
A natureza adormece sorrindo
E nós, no caminho de casa estamos indo.
E o pôr do sol sumindo entre as serras
Fica lá tudo rindo, tudo lindo!
Numa festa alegre ao som das cigarras
E o farfalhar das folhas da mata que circunda o velho Tamboril.
Dorme açude de minhas lembranças, sob o céu azul de anil !

Maria José Virgínio

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Poema ao acaso