A cerca do latifúndio sabia.
Os pistoleiros, os assalariados da morte,
a polícia fardada e paisana, o GETAT,
os garimpeiros, os bêbados, as prostitutas,
as professorinhas, as beatas,
as crianças brincando no areal da rua
sabiam.
Os homens da terra, os posseiros, os saqueados,
as mulheres alfabetizadas pela dor
e pela espera
sabiam.
O prefeito, o juiz, o delegado, a UDR,
os fazendeiros, os crápulas
sabiam.
As mãos dos assassinos
poliam as armas.
A igreja sabia
e esperava…
A haste orgulhosa do babaçu
sabia.
E dobrava as palmas num lamento
e multiplicava a ciência dessa morte,
os passarinhos, o relógio dos templos
mastigando o comboio da horas
e não se deteve, a água dos rios
não se deteve, fluindo irremediável
a hora dessa morte.
A pedra dos caminhos
sabia
e permaneceu muda,
o vento sabia
e anunciava seu gemido todavia indecifrável
Tuas sandálias sabiam
e continuaram a caminhar.
Eu, que nasci votado à alegria
e vivo a contar o rosário interminável
dos mortos
não fiz o verso,
espada de fúria,
que cindisse em dois
o comboio das horas
e descarrilasse o tempo de tua morte.
Você sabia.
E sorria
apenas.
Como quem se lava
para chegar vestido
de algodão
e transparência
à hora da solidão.
Pedro Tierra
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