A minha terra - José da Silva Maia Ferreira

A minha terra (trecho do poema)

Minha terra não tem os cristaes
Dessas fontes do só Portugal,
Minha terra não tem salgueiraes,
Só tem ondas de branco areal.

Em seus campos não brota o jasmim,
Não matisa de flôres seus prados,
Não tem rosas de fino carmim,
Só tem montes de barro escarpados.

Não tem meigo trinar — mavioso
Do fagueiro, gentil rouxinol,
Tem o canto suave, saudoso
Da Benguella no seu arrebol,

Primavera não tem tão brilhante
Como a Europa nos sóe infiltrar,
Não tem brisa lasciva, incessante,
Só tem raios de sol a queimar.

(...)
Tambem invejo o Brazil
Sobre as aguas a brilhar,

Nesses campos mil a mil,
Nesses montes d’alem mar.
Invejo a formozura
Desses prados de verdura,
Inspirando com doçura
O Poeta a descantar.

Nada tem minha terra natal
Qu’extasie e revele primôr,
Nada tem, a não ser dos desertos
A soidão que é tão grata ao cantor.

E tu Poeta bem fadado,
Que na gentil Guanabára,
Á tua pátria tão cara
Tantos cantos tens cantado
Tambem recebe o meu canto
De amargôr e de pranto
Sem bellezas, sem encanto,
Por minh’alma a ti votado!

José da Silva Maia Ferreira


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