A lancha negra
Para velar da luz a face refulgente
Nuvens pesadas vão correndo acumuladas,
E, na treva do oceano, as vagas compassadas
Passam, uma por uma, interminavelmente.
Mais do que a sombra, escura, avulta de repente
A lancha negra, vem... dos remos as pancadas
Ferem o mar, que chora, em gotas prateadas
As lágrimas sem fim, da sua dor pungente.
Eil-a a meus pés, a lancha, e nella, silenciosa,
Embarca a doce e branca imagem de outra idade!
E vejo-a ir... sumir-se... a lancha mysteriosa!...
Então, dentro de mim, num soluço, a saudade
Murmura, a perscrutar a sombra tenebrosa:
Nunca mais voltarás, nunca mais! Mocidade.
Adelina Lopes Vieira
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