Do outono e do silêncio - Álvaro Moreyra

Do outono e do silêncio

Ah! como eu sinto o Outono
nesses crepúsculos dispersos,
de solidão e de abandono...
nessas nuvens longínquas, agoureiras,
que têm a cor que um dia houve em meus versos
e nas tuas olheiras...

Tomba uma sombra roxa sobre a Terra...
A mesma nuança, em torno, tudo encerra
nuns tons fanados de ametista...
Paisagem morta, evocativa, doce...
como se o Ocaso fosse
um pintor simbolista...

Caem violetas...

Canta uma voz, distante...

E a luz vai a fugir, esfacelando
em trêmulas silhuetas
os troncos da alameda agonizante...

O Outono é uma elegia
que as folhas plangem, pelo vento, em bando...
E o Outono me endolara e anestesia
com a saudade remota do silêncio...
Silêncio vesperal das ressonâncias
esquecidas
que o Ângelus lento deixa sempre no ar...
Silêncio
irmão das covas, das ermidas...
incenso das distâncias...
onde a memória fica a ouvir perdidas
palavras que morreram sem falar...

E do silêncio em névoas esgarçado,
a cuja extrema sugestão me abrigo,
tu te evolas, dolente,
tal uma hora feliz de tempo alado
que às vezes brota de repente
de um velho aroma ou de acorde antigo...

Álvaro Moreyra


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