Em louvor do soneto - Félix Pacheco

EM LOUVOR DO SONETO

Outros se percam no marulho intenso,
E a lira afinem pelo canto vasto.
Eu, no meu lindo cárcere, me basto,
E não no julgo estreito, mas imenso.

Nestes curtos grilhões nunca me gasto.
Digo tudo que quero e quanto penso,
Satisfeito das perfídias que venço,
E orgulhoso dos óbices que afasto.

Ha quem prefira os poemas dilatados,
Amplas visões em versos numerosos,
Onde a rima extravase em grandes brados.

Eu, porém, a outros moldes me remeto,
E nunca tive um gozo entre os meus gozos
Que não coubesse dentro de um soneto!

(Soneto de abertura do livro No limiar do outono, 1919.)

Félix Pacheco

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poema ao acaso