Decadência - Augusto dos Anjos

DECADÊNCIA 

Iguais às linhas perpendiculares 
Caíram, como cruéis e hórridas hastas, 
Nas suas 33 vértebras gastas 
Quase todas as pedras tumulares! 

A frialdade dos círculos polares, 
Em sucessivas atuações nefastas, 
Penetrara-lhe os próprios neuroplastas, 
Estragara-lhe os centros medulares! 

Como quem quebra o objeto mais querido 
E começa a apanhar piedosamente 
Todas as microscópicas partículas, 

Ele hoje vê que, após tudo perdido, 
Só lhe restam agora o último doente 
E a armação funerária das clavículas!

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Poema ao acaso