TEMAS
O verdadeiro amigo
Compreenda.
Releve.
Nunca abandone
o verdadeiro amigo.
Ele pode nem estar
ao seu lado agora.
Mas certamente,estará sempre contigo.
Clarice Pacheco
O mundo é grande
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Saudade
Vem, ó saudade, toma-me em teu carro,
Em teu regaço leva-me dormindo,
Entre fagueiros sonhos embalado
Por esse espaço infindo.
Leva-me além daquele erguido monte,
Que lá campeia quase que sumido
Nas brumas do horizonte.
Leva-me além; - oh! muito além ainda;
Do eterno plaino largo campo fende;
E entre escalvadas serranias broncas
O carro teu suspende.
Aí nas abas de sombrio morro
Abate o vôo, e deixa-me nos braços
Daquela por quem morro.
Vem, ó saudade, toma-me em teu carro,
Em teu regaço leva-me dormindo,
Entre fagueiros sonhos embalado
Por esse espaço infindo.
Leva-me além daquele erguido monte,
Que lá campeia quase que sumido
Nas brumas do horizonte.
Leva-me além; - oh! muito além ainda;
Do eterno plaino largo campo fende;
E entre escalvadas serranias broncas
O carro teu suspende.
Aí nas abas de sombrio morro
Abate o vôo, e deixa-me nos braços
Daquela por quem morro.
Síntese
O que perturba e intimida
O meu espírito forte
Não é a certeza da morte,
Mas a incerteza da vida.
O Dom da Poesia
Deixa a palavra escorregar,
Como um jardim o âmbar e a cidra,
Magnânimo e distraído,
Devagar, devagar, devagar.
Boris Pasternak
Tradução de Augusto de Campos
Entre Amigos
Não me traga,
por favor,
flor a mais
que seu riso.
Nem me traga
mais presentes
que você,
- não preciso!
Sabe, caro,
já é muito
que me seja dado tanto
quanto tê-lo
por amigo.
Ironia!
Ironia! Ironia!
Minha consolação! Minha filosofia!
Imponderável máscara discreta
Dessa infinita dúvida secreta,
Que é a tragédia recôndita do ser!
Muita gente não te há de compreender
E dirá que és renúncia e covardia!
Ironia! Ironia!
És a minha atitude comovida:
O amor-próprio do Espírito, sorrindo!
O pudor da Razão diante da Vida!
Amor
Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Não há nada que se diga
Que não abra uma ferida
Tapas que a palavra dá na vida
Por isso e mais duzentas outras coisas
É que eu sou assim
Mais perto de você
Do que de mim
(Vicente Sá)
Só tu
Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram,
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu - que rude contraste!
— Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nestalma, ficaste,
De todas as que eu amei
A Vida
Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;
No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!
Vive até, no seu sono, a pedra bruta...
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, – essa harmonia que se escuta
Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida!
Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;
No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!
Vive até, no seu sono, a pedra bruta...
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, – essa harmonia que se escuta
Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida!
Olavo Bilac
Você diz que ama a chuva,
Os Pobres
Aí vêm pelos caminhos
Descalços, de pés no chão,
Os pobres que andam sozinhos,
Implorando compaixão.
Vivem sem cama e sem teto,
Na fome e na solidão:
Pedem um pouco de afeto,
Pedem um pouco de pão.
São tímidos? São covardes?
Têm pejo? Têm confusão?
Parai quando os encontrardes,
E dá-lhes a vossa mão!
Guia-lhes os tristes passos!
Dá-lhes, sem hesitação,
O apoio de vossos braços,
Metade de vosso pão!
Não receies que, algum dia,
Vos assalte a ingratidão:
O prêmio está na alegria
Que tereis no coração.
Protegei os desgraçados,
Órfãos de toda a afeição:
E sereis abençoados
Por um pedaço de pão ...
Piedade
O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade,
Ficar mais doce o eterno desengano.
Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, atravez da immensidade,
Táboas de salvação, de suavidade,
De consolo e de affecto soberano.
Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar á dor do mundo,
Ficar inutil nos amargos trilhos.
É como se o meu ser compadecido
Não tivesse um soluço commovido
Para sentir e para amar meus filhos!
Você diz que ama a chuva,
mas você abre seu guarda-chuva quando chove.
Você diz que ama o sol,
mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha.
Você diz que ama o vento,
mas você fecha as janelas quando o vento sopra.
É por isso que eu tenho medo.
Você também diz que me ama
Meu amor tanto vos quero,
que deseja o coração
mil cousas contra a razão.
Porque, se vos não quisesse,
como poderia ter
desejo que me viesse
do que nunca pode ser?
Mas conquanto desespero,
e em mim tanta afeição,
que deseja o coração.
O amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de infinito!
Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Poeminha de Homenagem à Preguiça Universal
Que nada é impossível
não é verdade;
todo o mundo faz nada
com facilidade
A uma mulher amada
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.
Prova de amor não é
Navegar os sete mares
Ir à lua ou às estrelas
Nem sair pelos ares
É, antes, ser teu amigo
Sempre estar contigo
Aonde quer que andares.
Manoel Cordel
Humildade
As águas beijei,
As nuvens olhei,
Às árvores cantei,
Na sua beleza.
Os bichos amei,
Na sua bruteza,
Na sua pureza,
De forças sem lei.
Porque o amor é simples,
Vale a pena colhê-lo.
Nasce em qualquer degredo,
Cria-se em qualquer chão.
Anda, não tenhas medo!
Não deixes sem amor o coração!
O amor é sentimento lindo
Que briga sempre com a razão
Quando alguém está sentindo
O sente com emoção
Sem fórmulas, com o instinto
Ouvindo a voz do coração
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Soneto Sonhando
Meu tudo, minha amada e minha amiga,
Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão de fé e afeto,
Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga.
O que n’alma guardei de muita antiga
Experiência foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
Só, e do amor só carnal não gosto miga.
O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?… Dos longes da distância?…
Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção… Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.
Manuel Bandeira
"Liberdade essa palavra,Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão de fé e afeto,
Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga.
O que n’alma guardei de muita antiga
Experiência foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
Só, e do amor só carnal não gosto miga.
O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?… Dos longes da distância?…
Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção… Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.
Manuel Bandeira
que o sonho humano alimenta,
que não há ninguem que explique,
e não há ninguém que não entenda."
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes
Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.
Insignificância
Nossa insignificância é extrema
Nossa insignificância é extrema
Nesses dias de pura ganância
Ninguém de ninguém tem pena
O que prevalece é a arrogância
Daqueles que só querem a riqueza
E do outro esquecem a importância.
Giano Guimarães
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Para que eu viva,
Com a alegria de viver,
Eu preciso encontrar,
Face
Tua face fácil
Teu fascinante mundo
Minha facilidade com teu jeito
Teu faceiro jeito de ser
Minha farsa em dizer não
Sempre querendo dizer sim
Meu doce abrigo
Minha interface contigo
Mil e uma faces eu e você
Tua face na minha
Meu fascínio por ti
É fácil demais te querer
Teu fascinante mundo
Minha facilidade com teu jeito
Teu faceiro jeito de ser
Minha farsa em dizer não
Sempre querendo dizer sim
Meu doce abrigo
Minha interface contigo
Mil e uma faces eu e você
Tua face na minha
Meu fascínio por ti
É fácil demais te querer
Giano Guimarães
Soneto de Mal Amar
Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afogadas.
Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras mágoa joio e trigo
apenas por ternura levedadas.
Ciclo
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A arvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!
Olavo Bilac
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A arvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!
Olavo Bilac
Abrigo celeste
Estrela triste a refletir na lama,
Raio de luz a cintilar na poeira,
Tens a graça sutil e feiticeira,
A doçura das curvas e da chama.
Do teu olhar um fluido se derrama
De tão suave, cândida maneira
Que és a sagrada pomba alvissareira
Que para o Amor toda aminh'alma chama.
Meu ser anseia por teu doce apoio,
Nos outros seres só encontra joio
Mas só no teu todo o divino trigo.
Sou como um cego sem bordão de arrimo
Que do teu ser, tateando, me aproximo
Como de um céu de carinhoso abrigo.
Estrela triste a refletir na lama,
Raio de luz a cintilar na poeira,
Tens a graça sutil e feiticeira,
A doçura das curvas e da chama.
Do teu olhar um fluido se derrama
De tão suave, cândida maneira
Que és a sagrada pomba alvissareira
Que para o Amor toda aminh'alma chama.
Meu ser anseia por teu doce apoio,
Nos outros seres só encontra joio
Mas só no teu todo o divino trigo.
Sou como um cego sem bordão de arrimo
Que do teu ser, tateando, me aproximo
Como de um céu de carinhoso abrigo.
Amor de Pai
O amor de pai é indiscutível:
mão calejada,
camisa suada,
pressa, canseira,
doação.
O pai é ainda avalista
dos erros na contra-mão.
O amor de pai
é visível:
joelhos dobrados,
prece escondida,
braços abertos,
olhar de ternura,
perdão.
Pai é alguém
muito especial:
produtor, diretor,
ator, figurante
do filme, ao vivo,
em cores,
com o roteiro da vida escrito
nas linhas de sua mão.
Ivone Boechat
Mural de Poemas
Um muro cheio de poemas
É o que este sitio oferece
Poemas com vários temas
Pois boa leitura merece
O leitor de bons poemas
Que todos os dias carece
Não só de comida apenas
Mas de poesia que lhe interesse
Aqui você esquece os problemas
Pois é como se estivesse
Dentro de um próprio poema
Que quando se lê, se esquece
Da vida e dos seus dilemas
Como se eles não mais tivesse
Portanto sinta-se a vontade
Navegando por este blog
Se gostou tenha a liberdade
De voltar, pois você pode
Com a gente de novo contar
Ainda te peço, não se incomode
Para no botão curtir você clicar
por: poesiapoemasefrases.blogspot.com