Flor de Beleza
Em cuja fronte singela,
Como em tela delicada
Luz da beleza o condão,
Foras rainha adorada;
Mas rainha sedutora,
Que exige preitos numa hora,
E na outra hora adoração.
Foras rainha! e ditosos
Teus vassalos extremosos,
Que ao renderem-te seus preitos
Beijaram-te a nívea mão.
Pedes amor e respeitos!
Quem não ama a formosura,
Quem não respeita a candura
De um sincero coração?
Mas antes que nos curvemos
Ante a beleza que vemos,
Tua angélica bondade
Conquista a nossa afeição:
Não és mulher, mas deidade,
Uma fada sedutora,
Que nos pede amor agora,
Logo mais — adoração.
Quando pois, cheia de graças,
Entre a turba alegre passas,
Entre a turba sequiosa
De beijar-te a nívea mão;
Dizem uns: quanto é formosa!
Eu porém, sei que és mais bela
Nos dotes da alma singela,
Nas prendas do coração.
Passa rápida a beleza,
Como flor que a natureza
Cria em jardim melindroso,
Ou num agreste torrão:
Passa como um som queixoso,
Como felizes instantes,
Como as juras dos amantes,
Como extremos da paixão.
Mas d′alma a vida é mais fina,
Exala essência divina,
Que avigora e fortifica
O dorido coração;
Morto o corpo, ainda fica,
Como em rosal arrancado,
Leve aroma derramado
Dos espaços na extensão.
Gonçalves Dias
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