O Sino rachado
Como é amargo e bom, no inverno, junto ao lar,
Sentindo consumir a madeira que fuma,
Saudosas ilusões de outrora recordar,
Ouvindo os carrilhões bimbalhando na bruma.
Como o sino é feliz! Vèlhinho vigoroso,
Tem notas de crustak na conservada guela,
Fazendo retinir seu timbre religioso,
Como n'uma guarita a voz da sentinela!
Quanta a mim, a minh'alma está rachada, e quando
Procura uma canção desferir, povoando
O ar frio da noite, a sua voz exangue
Sôa como o es teuir d'um soldado ferido,
Sob um grande montão de mortos, esquecido,
Manietado, a expirar n'um tremendal de sangue!
por Charles Baudelaire, tradução de Delfim Guimarães
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