Luís de Camões - Na ribeira do Eufrates assentado

Na ribeira do Eufrates assentado

Na ribeira do Eufrates assentado,
discorrendo me achei pela memória
aquele breve bem, aquela glória,
que em ti, doce Sião, tinha passado.

Da causa de meus males perguntado
me foi: «Como não cantas a história
de teu passado bem, e da vitória
que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes que, a quem canta, se lhe esquece
o mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte».

Respondo com suspiros: «Quando crece
a muita saudade, o piadoso
remédio é não cantar senão a morte».


Luís de Camões

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Poema ao acaso