Último credo - Augusto dos Anjos

ÚLTIMO CREDO 

Como ama o homem adúltero o adultério 
E o ébrio a garrafa tóxica de rum, 
Amo o coveiro -- este ladrão comum 
Que arrasta a gente para o cemitério! 

É o transcendentalíssimo mistério! 
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum, 
É a morte, é esse danado número Um 
Que matou Cristo e que matou Tibério! 

Creio, como o filósofo mais crente, 
na generalidade descrente 
Com que a substância cósmica evolui... 

Creio, perante a evolução imensa, 
Que o homem universal de amanhã vença 
O homem particular eu que ontem fui! 

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Poema ao acaso