Vencido - Augusto dos Anjos

VENCIDO

No auge de atordoadora e ávida sanha 
Leu tudo, desde o mais prístino mito, 
por exemplo: o do boi Ápis do Egito 
Ao velho Niebelungen da Alemanha. 

Acometido de uma febre estranha 
Sem o escândalo fônico de um grito, 
mergulhou a cabeça no Infinito, 
Arrancou os cabelos na montanha! 

Desceu depois à gleba mais bastarda, 
Pondo a áurea insígnia heráldica da farda 
À vontade do vômito plebeu... 

E ao vir-lhe o cuspo diário à boca fria 
O vencido pensava que cuspia 
Na célula infeliz de onde nasceu. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poema ao acaso