Quadras ao gosto popular (3) - Fernando Pessoal


Quando é o tempo do trigo
É o tempo de trigar,
A verdade é um postigo
A que ninguém vem falar. 


Levas chinelas que batem
No chão com o calcanhar.
Antes quero que me matem
Que ouvir esse som parar. 


Em vez da saia de chita
Tens uma saia melhor.
De qualquer modo és bonita,
E o bonita é o pior. 


Levas uma rosa ao peito
E tens um andar que é teu...
Antes tivesses o jeito
De amar alguém, que sou eu. 


Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar. 


Tens uma rosa na mão.
Não sei se é para me dar.
As rosas que tens na cara,
Essas sabes tu guardar. 


Fomos passear na quinta,
Fomos à quinta em passeio.
Não há nada que eu não sinta
Que me não faça um enleio. 


Os alcatruzes da nora
Andam sempre a dar e dar,
É para dentro e pra fora
E não sabem acabar. 


Ó minha menina loura,
Ó minha loura menina,
Dize a quem te vê agora
Que já foste pequenina ... 


Tens um livro que não lês,
Tens uma flor que desfolhas;
Tens um coração aos pés
E para ele não olhas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poema ao acaso